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terça-feira, 20 de dezembro de 2016

MEC lança programa de ensino técnico para estudantes do ensino médio | Agência Brasil

O ministro da Educação, Mendonça Filho, ao lado do presidente Michel Temer, anunciou hoje (20) o Mediotec. Trata-se de um braço do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) destinado a ofertar formação técnica e profissional a estudantes do ensino médio. Ao todo, serão ofertadas 82 mil vagas.
O Mediotec antecipa as mudanças estabelecidas na Medida Provisória 746/2016, que reforma a etapa de ensino. A formação é direcionada ao jovem do ensino médio e faz parte do Pronatec, mas traz a dupla certificação: o estudante conclui tanto o nível médio como o nível técnico.
“O programa dá mais autonomia para que os jovens possam definir o seu futuro do ponto de vista educacional das escolas de formação do nosso país”, diz Mendonça Filho. Destacou ainda que, no Brasil, 8,4% das matrículas do ensino médio estão articuladas a cursos de formação técnica. A porcentagem está aquém de países europeus, onde cerca de 40% das matrículas recebem essa formação.
“Temos que mudar essa realidade quando o jovem não tem acesso à formação técnica, mesmo que sonhe com o ensino superior, a rigor está comprometendo a sua perspectiva de futuro”, disse.
Segundo o ministro da Educação, R$ 700 milhões serão liberados ainda este ano para os estados. Em janeiro, haverá um novo repasse para as instituições privadas, Sistema S e institutos federais. Os recursos deste ano serão destinados a 18 estados e ao Distrito Federal, que possuem oferta de ensino técnico. As vagas serão disponibilizadas já em 2017.
Entre as alterações feitas no ensino médio pela medida provisória figura a possibilidade de o estudante escolher uma trajetória de formação, que pode ser: linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas, além da formação técnica e profissional. O programa vem fortalecer esse quinto eixo de formação.


Com o programa, o MEC retoma o crescimento da oferta de ensino técnico concomitante ao ensino médio. Em 2015, foram ofertadas 44 mil bolsas para estudantes do ensino médio. Em 2016, esse número caiu para 9,1 mil, segundo o ministério. "Vamos dobrar a oferta em relação a 2015 e aumentar em quase dez vezes o que foi ofertado em 2016", diz Mendonça Filho.
Brasília - Ministro da Educação, Mendonça Filho, participa de audiência pública no Senado sobre reforma do ensino médio (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
 O ministro Mendonça Filho disse que o Mediotec “dá mais autonomia para que os jovens definam o seu futuro do ponto de vista educacional das escolas de formação”            Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil


Tempo integral


Além do Mediotec, o ministro reforçou o Programa de Fomento à Implementação de Escolas em Tempo Integral para o Ensino Médio, lançado junto com a MP do Ensino Médio. Até o dia 9, o programa contava com 213 escolas aprovadas e outras 290 aprovadas com ressalvas. Segundo o ministro, 263 mil matrículas estão asseguradas para o próximo ano. Na primeira etapa, serão liberados R$ 150 milhões aos estados.
O objetivo do MEC é investir R$ 1,5 bilhão em dois anos para que 500 mil novos estudantes tenham a jornada escolar prolongada para sete horas por dia. O total de escolas inscritas no programa este ano atende a 290 mil alunos. Dessas, 83 tiveram a participação negada por não atender aos critérios estabelecidos.
Pelo Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado em 2014, o Brasil deve ter pelo menos 25% dos estudantes em tempo integral até 2024 no ensino médio – atualmente apenas 6,4% das matrículas são em tempo integral.


O PNE também estabelece que o Brasil deve triplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo menos 50% da expansão no segmento público. Em 2024, o país deve ofertar 5,2 milhões de matrículas. Em 2015, era 1,8 milhão de matrículas.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Escola usa aulas de respeito e honestidade para combater violência - BBC Brasil

Aula de inteligência emocional na escola em Pirituba
"Professora, o Victor disse que vai matar o Pedro e a Ana quando ele crescer", denuncia Marina* à professora da sala da segunda série de uma escola localizada no meio de uma comunidade em Pirituba, zona oeste de São Paulo. A "ameaça de morte" pode até assustar de bate-pronto, mas é uma provocação comum de ser ouvida por ali. "Eu tava zoando", defende-se o garoto de 8 anos.
Até três anos atrás, os gritos de "Vou te matar" eram, em geral, seguidos por brigas violentas, em que alunos saíam dando chutes, socos e pontapés uns nos outros. Às vezes, sobrava também para os professores – alguns deles relatam terem levado "unhada" dos estudantes, outros foram agredidos com chutes em momentos de irritação das crianças.
Mas desde que um grupo de psicólogas começou a trabalhar as emoções dos alunos, inserindo na grade curricular a matéria de "inteligência emocional" – que incluem aulas de respeito e até honestidade -, a realidade da rotina na escola mudou bastante, conforme relatam os próprios professores.
O tema da violência contra professores foi destacado por internautas em consultas nas redes sociais promovidas pelo #salasocial, o projeto da BBC Brasil que usa as redes para obter conteúdo original e promover uma maior interação com o público.
Leitores disseram que a educação deveria merecer mais atenção por parte dos candidatos a cargos públicos e educadores compartilharam denúncias de agressões que sofreram tanto em nossas páginas de Facebook, como Google+ e Twitter.

Reflexo de conflitos

Localizada em uma comunidade com altos índices de violência, a escola da zona oeste sofria o reflexo dos conflitos do lado de fora que iam parar dentro das salas de aula, com alunos agressivos e "sem limites", conforme definiram os próprios professores à BBC Brasil.
"É uma realidade fora do que você possa imaginar vivendo na classe média. O comportamento das crianças me assustou bastante, a agitação que eles tinham, a falta de concentração", relatou uma das professoras, que já teve turmas do ginásio e do primário na escola de Pirituba.
"A gente via muito desrespeito, falta de tolerância, o aluno não consegue enxergar os erros dele, mas aí aponta no outro tudo o que tem de ruim e isso gera muitas brigas, agressões verbais, físicas, tudo isso aqui era muito constante", constatou.
Para combater essa "agressividade" dos alunos, as psicólogas que fazem parte do grupo Inteligência Emocional na Escola implementaram um projeto no colégio dando outro caminho – que não a violência – para os alunos extravasarem suas emoções.
"Esses alunos têm problemas assustadores, alguns sofrem abuso sexual do pai, outros apanham, eles vivem a violência dentro e fora de casa e eles precisam falar isso, é um jeito de extravasar. Mas isso normalmente acaba sendo pela violência. Se você dá outro caminho para eles extravasarem isso, eles entendem e param com a violência", explicou Andreia Carelli, uma das psicólogas que fazem parte do projeto implementado na escola municipal de Pirituba.
O trabalho dela e das outras duas psicólogas que atualmente estão no projeto se dá em três tipos de ações: o ensino da inteligência emocional dentro da sala de aula, por meio de uma apostila que trata temas como respeito, honestidade, cidadania, diferenças, etc, conforme a faixa etária; o uso de dinâmicas (brincadeiras) que têm como objetivo trabalhar as emoções dos alunos e o autocontrole; e o atendimento individual para os casos mais graves, de alunos muito agressivos ou que passam por problemas pessoais mais complicados (abuso sexual, violência doméstica, drogas, etc).

Aulas

Pelos abraços e o calor demonstrado pelos alunos já no caminho para a sala, a reportagem constatou que o projeto parece ter boa receptividade. "Qual vai ser a atividade de hoje, tia?", "O que a gente vai fazer hoje, prô?" – a agitação era inegável, mas os alunos da 4ª série pareciam empolgados para a 'lição emocional' do dia que a professora-psicóloga iria passar.
Andreia começa a aula questionando os alunos: "O que tem que estar sempre presente quando a gente está em grupo?". Eles citam educação, amizade, respeito. "Respeito. E quando a gente perde o respeito é fácil de recuperar?" – um grandioso "não" ecoa pela sala. E a professora segue a explicação da brincadeira. "Hoje vocês vão ser cuidadores do respeito. Nós vamos deixar o respeito aqui na lousa e nós temos que cuidar para ele não ir embora."
A tarefa do dia era ouvir quatro histórias que a professora contaria e identificar, por meio de "carinhas" desenhadas em um papel (feliz, triste, assustado e com raiva) qual emoção cada uma delas despertava. Tudo isso sem perder os cuidados pelo "respeito" guardado na lousa.
Não demorou muito para os alunos se agitarem e começarem a falar ao mesmo tempo. A professora relembra: "Olha o respeito indo embora!", e a aluna da primeira carteira endossa o pedido apontando para o colega: "É, Kauã, respeita, cala a.." e ela mesma percebe sua 'quase' falta de respeito, colocando a mão na boca antes de completar a frase.
No meio da brincadeira e de algumas provocações direcionadas, outro incidente chamou a atenção da turma. Victor*, um garoto sentado no fundo da sala, levanta de repente e pega a cadeira na mão. Com um olhar transbordando de raiva, ele anda em direção ao colega em tom de ameaça. "Ele tá doido, ele quer matar ele" (sic), avisa um dos meninos à professora, que vai até Victor, abraça o garoto e, em tom sereno, faz as perguntas que eles já se acostumaram a ouvir nos últimos anos.
"Por que você queria jogar a cadeira nele? Você acha que ele ia ficar feliz se você fizesse isso? Você ia ficar feliz? Resolveria sua raiva? Lembra que quando a gente perde o respeito, a gente não ganha o respeito dos outros" – aos poucos, o Victor vai se acalmando e volta a sentar no seu lugar.
Ao fim da aula, quando a professora pergunta se a classe "cuidou bem do respeito", o próprio Victor admite: "Vixe, o respeito quase foi embora".
Andreia Carelli faz parte do projeto há um ano e meio e explica que o grande mérito dele é mudar a visão de mundo dos alunos. "Quando eles chegam aqui, a única referência deles de mundo é a violência, mas a gente conseguiu dar pra eles outra referência, como conversar. Se você não gosta de apanhar, por que você vai bater? E com o tempo eles vão mudando essas atitudes."

Professores

As aulas de inteligência emocional são ministradas semanalmente de 1ª à 5ª série em quatro escolas do país, duas em São Paulo (uma municipal e a outra estadual) e duas em Manaus (as duas estaduais). O sucesso do projeto é percebido facilmente pelos professores.
"Ao longo desses dois anos é nítida a mudança, a convivência entre os alunos mudou demais. E a gente sabe que mudou o comportamento aqui dentro da escola, porque essa não é a realidade deles lá fora", contou uma das professoras.
Os professores, inclusive, também passaram por um treinamento com as psicólogas para poderem aprimorar a relação que tinham com os alunos na escola. "No início, eles (professores) tinham bastante resistência, achavam que estávamos ali para criticar o trabalho que eles estavam fazendo e tal. Depois eles foram aceitando e sentindo o resultado das aulas", explica Taíssa Lukjanenko, outra psicóloga que está no projeto desde o início.
Em geral vistos como vítimas, os professores muitas vezes também são 'agentes da violência' pelo modo como tratam os alunos, conforme pontuou Taíssa. "Aquela violência nunca é só do aluno. Ela vem do meio que ele vive, da forma como o professor o aborda, mas nunca é só dele."
Ela diz que o autoritarismo de alguns professores assim como a adoção de medidas extremas como a expulsão de sala em casos pequenos de indisciplina – um assovio durante a aula, por exemplo – podem contribuir para um ambiente violento na escola, além de prejudicar a relação professor-aluno. "Essa relação é muito importante, o respeito vem daí".
De acordo com os números do grupo Inteligência Emocional na Escola, 86% dos professores que dão aula nas escolas que participam do projeto consideram que a disciplina dos alunos melhorou e 89% acreditam que a relação com os alunos também deu um salto após a aplicação das aulas.
Além do projeto com as psicólogas, a escola em Pirituba também aposta em programas extra-curriculares – banda escolar, mostra cultural, etc. – e na integração com a comunidade – a escola é aberta no fim de semana para atividades da comunidade de Pirituba – para combater a violência.
*Os nomes usados são fictícios

Goiás aposta em 'militarização' de escolas para vencer violência - BBC Brasil

No portão de entrada, o sequestro relâmpago de uma professora; na sala de aula, o assassinato de um ex-aluno; no banheiro, tráfico de drogas: esse era o retrato da escola Fernando Pessoa em Valparaíso (GO), que acendeu o alerta das Secretarias de Educação e de Segurança Pública de Goiás para os frequentes casos de violência na rede de ensino estadual.
Para combatê-los, o governo goiano, literalmente, chamou a polícia. Numa medida polêmica, a escola Fernando Pessoa, assim como outras 11 da rede estadual no último ano, passou por um processo de "militarização" do ensino, resultado de uma parceria das duas Secretarias (Educação e Segurança) para acabar com a violência no ambiente escolar.
Na prática, os militares assumem a administração da escola, enquanto a parte pedagógica (professores e métodos de ensino) segue sob a alçada da Secretaria de Educação.
Em consultadas realizadas pelo #salasocial, o projeto da BBC Brasil que busca conteúdo original nas redes sociais, leitores disseram que a educação deveria merecer mais atenção por parte dos candidatos a cargos públicos. E professores compartilharam denúncias de agressões que sofreram tanto em nossas páginas de FacebookGoogle+ e Twitter.

'Hierarquia e disciplina'

Os resultados da mudança implantada no início deste ano, segundo a escola e o governo goiano, foram satisfatórios. O diretor do agora Colégio Militar Fernando Pessoa, capitão Francisco dos Santos Silva, afirma que, implementando os princípios básicos militares de "hierarquia e disciplina", a escola conseguiu acabar com os casos de violência e virou um "sonho" para os moradores da cidade.
"Aqui, aluno fumava droga dentro da escola e batia em professor. Eu cheguei a ter de tirar uma professora da aula. Ela estava em um estado tão grande de depressão, que eu tive que tirá-la da sala", conta o capitão à BBC Brasil. "Agora, é outro mundo, os próprios professores perguntam como nós conseguimos. Antes, eram os alunos que mandavam na escola", diz.
Entre os pedagogos e especialistas, porém, o modelo militar é bastante questionado. "Resolve a violência por causa do medo da repressão. Mas não resolve o problema real", defende a doutora em Ciência da Educação e coordenadora do Observatório de Violência nas Escolas do Brasil, Miriam Abramovay.
A escola se tornou militar em janeiro deste ano e, segundo o capitão Santos, conseguiu manter 80% dos alunos após as mudanças – eram 680 alunos até então. Agora, o colégio tem quase o dobro de estudantes (1.100) e atuam nele um total de 13 oficiais militares, 38 professores – a maioria mantida do modelo antigo da escola, com apenas algumas trocas daqueles que "não se adaptaram ao novo esquema" -, além de uma psicóloga, uma psicopedagoga e outros funcionários.
Entre as funções dos militares, estão as de cunho administrativo – o comandante e o sub-comandante fazem parte do corpo diretivo – e também as de "coordenadores de disciplina", que são responsáveis por fazer com que os alunos cumpram as regras da cartilha militar.
"O ser humano se adapta ao meio. Quando você tira o meio violento, as palavras pesadas, eles mudam, o linguajar muda, o falar muda, a gente trabalha a consciência deles", diz o capitão Santos. "Os alunos receberam muito bem, teve três ou quatro pais que não ficaram satisfeitos. Mas para a região aqui é um sonho para esse povo, muita gente queria e não tinha oportunidade."

Mudanças

O dia a dia do aluno do Fernando Pessoa já começa diferente ao sair de casa para ir à escola. Antes, bastava colocar a camiseta do colégio, agora é preciso vestir o uniforme militar completo de estudante e cuidar para que tudo esteja "nos trinques" – uma camisa para fora da calça já pode gerar uma chamada de atenção.
O corte de cabelo dos meninos agora é "padrão militar", e as meninas devem manter o seu preso. Esmalte escuro é proibido, assim como acessórios muito chamativos. Mascar chiclete, falar palavrão ou se comunicar com gírias ("velho", "mano", "brother") também são práticas banidas da escola desde que ela se tornou militar.
Ao chegarem à escola, o tradicional "bom dia" foi substituído por uma continência. "Ela é a nossa saudação, para o professor ou entre os alunos, é um jeito de dizer 'bom dia, como vai?'", explica o capitão Santos. Daí vem o perfilamento em formação militar seguido da revista de um "coordenador de disciplina" para evitar que alguma regra seja desrespeitada. Uma vez por semana, há também a formação geral para cantar o hino nacional e o hino à bandeira, enquanto a mesma é hasteada conforme manda o protocolo militar.
Além dos novos hábitos, os alunos da escola Fernando Pessoa ganharam também novas aulas. O currículo do Ministério da Educação (MEC) é mantido, mas os militares adicionaram à grade aulas de música, cidadania, educação física militar, ordem unida, prevenção às drogas e Constituição Federal.
"Nós trabalhamos o respeito com o próximo, a responsabilidade com horários, a reverência aos mais velhos. E a convivência", conta o diretor, que garante também não aplicar punições severas aos alunos que quebrarem as regras.

'Mensalidade'

Desde que os militares passaram a administrá-la, a escola Fernando Pessoa passou por reformas e teve sua aparência transformada. "A escola era toda pichada, toda deteriorada, banheiros quebrados. Tirei oito caminhões de lixo daqui, era uma coisa muito triste. Agora, reformulamos, pintamos, pusemos climatizador nas salas, sistema de câmera, não tem mais nada de violência", diz o diretor.
O próximo passo, segundo ele, é informatizar todas as salas, ampliar a área de esporte, construir uma piscina olímpica para natação e hidroginástica e criar um anexo para receber mais alunos. Mas tudo isso não é pago somente com a verba destinada pelo governo do Estado. Quem estuda no colégio militar Fernando Pessoa agora é convidado a "contribuir voluntariamente" com o pagamento de uma matrícula (R$ 100) e de uma mensalidade (R$ 50). O "custo" para o aluno inclui também a compra do uniforme militar, de R$ 150.
"É voluntário, acharam que isso era uma obrigação, mas não é. Contribui quem quer. O uniforme faz parte também, quem não teve condição de comprar a escola doou. Tiramos 10% dos pais que contribuem para ajudar quem não tem condição", esclarece o comandante Santos.
"Nós reunimos os pais e passamos pra eles como funciona nossa escola. Mostramos que esse apoio deles é muito pouco pelo que a gente oferece. E eles acreditam e acabam aderindo. Muitos ajudam até com mais", diz.

Solução questionada

A "solução" encontrada pela escola Fernando Pessoa com a "militarização" do ensino é vista por alguns educadores como uma forma de a escola "fugir" do problema. Para Miriam Abramovay, uma das principais especialistas em violência no ambiente escolar – responsável por coordenar, inclusive, uma pesquisa da Unesco sobre o assunto -, a atitude mostra um certo "desespero" da escola, que "atesta sua incapacidade" para resolver a questão.
"Militarizar a escola é algo muito grave, porque a escola atesta que ela não é capaz de nada, que para ela funcionar, tem que vir gente de fora, tem que vir a polícia. E aí dizem que isso resolve, mas resolve pela repressão", pondera.
O método da disciplina que proíbe o uso de palavrões e de um linguajar mais despojado também é questionado por Abramovay. "Falar palavrões, usar gírias é normal entre os jovens, faz parte da linguagem juvenil, em algum momento sai palavrão. Proibi-los disso é mais uma forma de repressão", diz.
Por último, a pesquisadora pontuou que não há números concretos que comprovem a eficiência dos militares no combate à violência na escola.
"Nos Estados Unidos, quando a polícia entrou nas escolas americanas, a violência só aumentou. Sabemos isso porque lá tem números, aqui não temos números. Os adolescentes e jovens estão sempre tentando burlar as formas de repressão que eles sofrem, então por isso que não resolve a violência desse jeito", observa. "Nós já tivemos uma ditadura militar aqui, não dá para chamar os militares para qualquer coisa."
Goiás aposta em 'militarização' de escolas para vencer violência - BBC Brasil

No Japão, alunos limpam até banheiro da escola para aprender a valorizar patrimônio - BBC Brasil

Marcelo  Hide
Enquanto no Brasil escolas que "obrigam" alunos a ajudar na limpeza das salas são denunciadas por pais e levantam debate sobre abuso, no Japão, atividades como varrer e passar pano no chão, lavar o banheiro e servir a merenda fazem parte da rotina escolar dos estudantes do ensino fundamental ao médio.
"Na escola, o aluno não estuda apenas as matérias, mas aprende também a cuidar do que é público e a ser um cidadão mais consciente", explica o professor Toshinori Saito. "Ninguém reclama porque sempre foi assim."
Nas escolas japonesas também não existem refeitórios. Os estudantes comem na própria sala de aula e são eles mesmos que organizam tudo e servem os colegas.
Depois da merenda, é hora de limpar a escola. Os alunos são divididos em grupos, e cada um é responsável por lavar o que foi usado na refeição e pela limpeza da sala de aula, dos corredores, das escadas e dos banheiros num sistema de rodízio coordenado pelos professores.
Marcelo Hide
"Também ajudei a cuidar da escola, assim como meus pais e avós, e nos sentimos felizes ao receber a tarefa, porque estamos ganhando uma responsabilidade", diz Saito.
Michie Afuso, presidente da ABC Japan, organização sem fins lucrativos que ajuda na integração de estrangeiros e japoneses, diz ainda que a obrigação faz com que as crianças entendam a importância de se limpar o que sujou.
Um reflexo disso pôde ser visto durante a Copa do Mundo no Brasil, quando a torcida japonesa chamou atenção por limpar as arquibancadas durante os jogos e também nas ruas das cidades japonesas, que são conhecidas mundialmente por sua limpeza quase sempre impecável.
"Isso mostra o nível de organização do povo japonês, que aprende desde pequeno a cuidar de um patrimônio público que será útil para as próximas gerações", opina.

Estrangeiros

Ewerthon Tobace I BBC Brasil
Para que os estrangeiros e seus filhos entendam como funcionam as tradições na escola japonesa, muitas prefeituras contratam auxiliares bilíngues. A brasileira Emilia Mie Tamada, de 57 anos, trabalha na província de Nara há 15 e atua como voluntária há mais de 20.
"Neste período, não me lembro de nenhum pai que tenha questionado a participação do filho na limpeza da escola", conta ela.
Michie Afuso diz que, aos olhos de quem não é do país, o sistema educacional japonês pode parecer rígido, "mas educação é um assunto levado muito à sério pelos japoneses", defende.
Marcelo Hide
Recentemente no Brasil, um vídeo no qual uma estudante agride a diretora da escola por ela ter lhe confiscado o telefone celular se tornou viral na internet e abriu uma série de discussões sobre violência na escola.
Outros casos de agressão contra professores foram destaques de jornais pelo Brasil nos últimos meses, como da diretora que foi alvo de socos e golpes de caneta em Sergipe e da professora do Rio Grande do Sul que foi espancada por uma aluna e seus familiares durante uma festa junina.
No Japão, este tipo de abuso dentro da escola é raro. "Desde os tempos antigos, escola e professores são respeitados. Os alunos aprendem a cultivar o sentimento de amor e agradecimento à escola", diz Emilia.

Violência

Marcelo Hide
No ano passado, durante as eleições, a BBC Brasil publicou uma série de reportagens sobre a violência de alunos contra professores no Brasil. As matérias revelaram casos de professores que chegaram a tentar suicídio após agressões consecutivas e apontaram algumas das soluções encontradas por colégios públicos para conter a violência – da militarização à disseminação de uma cultura de paz entre escolas e comunidade.
Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que ouviu mais de 100 mil professores e diretores de escola em 34 países, o Brasil ocupa o topo de um ranking de violência em escolas – 12,5% dos professores ouvidos disseram ser vítimas de agressões verbais ou intimidação pelo menos uma vez por semana.
"Assim como o Brasil tem um programa de intercâmbio com a polícia japonesa, poderíamos ter um na área educacional", propõe Michie, da ABC Japan, ao se referir ao sistema de policiamento comunitário do Japão que foi implantado em algumas cidades do Brasil.
A brasileira lembra que a celebração dos 120 anos de relações diplomáticas entre Brasil e Japão seria uma ótima oportunidade para incrementar o intercâmbio na área social e não apenas na comercial.
"Dessa forma, os professores poderiam levar algumas ideias do sistema de ensino japonês para melhorar as escolas no Brasil", sugere Michie.
Arquivo pessoal
No Japão, alunos limpam até banheiro da escola para aprender a valorizar patrimônio - BBC Brasil

sábado, 10 de dezembro de 2016

Encerramento do ano letivo da Escola Vinde Meninos com Classe nas Artes

A festa de encerramento do ano letivo da Escola Vinde Meninos com Classe nas Artes se deu no dia 10/12/2016 (juntamente com a Quarta Exposição de Pintura) e um balanço positivo comprovou a eficiência do nosso trabalhando ratificando dessa forma que estamos no caminho certo.
A volta as aulas será no dia 04 de fevereiro de 2017.
Desejamos a todos Boas Festas e um Feliz Ano Novo!
Classe Crescendo com Classe
Classe Boas Novas

Professores, secretários, instrutores, monitores.. 

Veja como foi a Quarta Exposição de Telas / Viva as Olimpíadas!

A pintura é poesia sem palavras.... Frase de Voltaire.

Aconteceu na Escola Vinde Meninos com Classe nas Artes (10/12/2016) a Quarta Exposição de Telas dos alunos do Curso de Pintura (óleo sobre tela), o tema deste ano foi “VIVA AS OLIMPÍADAS”.
Mascotes, símbolos, modalidades esportivas olímpicas e paralímpicas reunidas em mais de 25 obras.
O curso de pintura é ministrado pela professora Maria da Gloria e nesta quarta exposição tivemos a participação de 14 alunos.
Pelo quarto ano consecutivo, a exposição atraiu moradores da comunidade e de bairros vizinhos.
Muitas obras desses mesmos alunos encontram-se espalhadas pelos mais diversos bairros do Rio de Janeiro e desta feita, não foi diferente das outras vezes, a aquisição (pelo público amante das artes plásticas) foi bastante satisfatória.
Um percentual da venda é dividido entre os alunos e o restante é depositado na caixinha da escola.
Os alunos da turma Crescendo com Classe também mostraram a sua arte...
Aluna aniversariante do mês (Geovana) ao lado da instrutora Luciana...
Tivemos também a participação da irmã Elizabeth declamando uma linda poesia...
A enfermeira Vilma falou um pouco a respeito do Curso de Cuidador de Idosos...
A organização preparou com muito carinho um delicioso bufê para coroar esta bela iniciativa de incentivo as artes plásticas.
O Coelhinho do Campinarte também marcou presença / Veja as imagens...
 




terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Convite - Exposição de Telas - Tema / Viva as Olimpíadas

Escola Vinde Meninos com Classe nas Artes
Rua: Sta. Bárbara, nº 6 - Irajá - Tel.: 99313-4419
CONVITE
EXPOSIÇÃO DE TELAS SOB O TEMA - VIVA AS OLIMPÍADAS
Nesta oportunidade estamos convidando você e toda sua família a participar desta Festa!
Dia - 10/12/2016 (2º sábado de dezembro) - Início - 10 horas

terça-feira, 29 de novembro de 2016

EBC | Ensine seu filho a respeitar a natureza e as pessoas

Por volta dos cinco anos, as crianças começam a observar com mais clareza e curiosidade o mundo ao seu redor. Passa a fazer perguntas sobre todas as coisas e desenvolve teorias para os fenômenos que vê.
É muito importante aproveitar esse momento-chave para fazê-lo conhecer e respeitar a natureza e as pessoas que o rodeiam. O Guia da Família produzido pelo programa Primeira Infância Melhor, do Rio Grande do Sul, traz algumas dicas nesse sentido. Confira:
A criança deve aprender a conhecer a natureza, preservá-la e apreciar sua beleza.
Permita que seu filho cuide sozinho de pequenas plantas e observe o que faz durante essa atividade.
Nesta idade são comuns perguntas como: “Por que o sol se esconde?”, “De onde sai a água?”, “De onde vem meu irmãozinho?”. Explique de forma simples e verdadeira. Caso não saiba a resposta, diga que vai descobrir e depois lhe dizer. E faça isso mesmo. O mais importante é não deixar nenhuma pergunta sem resposta.
Desde pequeno, seu filho gostará de fazer experimentos:
1) Coloque um grão de feijão sobre um algodão úmido. Observe durante vários dias junto com ele, para que diga o que acontece.
2) Por que a roupa seca quando o sol esquenta?
Ensine-o a cuidar dos jardins, parques e pátios que você visita com ele. Assim aprenderá a respeitar a natureza e conservar sua beleza.
A criança convive em um meio social que começa com a própria família e a casa. Ensine seu filho a conviver, conhecer e a respeitar o seu ambiente.
Comente com ele como está formada sua família, o que cada um faz na casa e no trabalho.
Pouco a pouco seu filho vai conhecer onde vive e os lugares mais importantes. Faça com que se sinta parte de sua comunidade, participando das atividades do bairro.
Fale com ele sobre os diferentes trabalhos e profissões que as pessoas próximas a ele realizam: professor, médico, enfermeira, padeiro, pintor e agricultor.
Saliente o respeito e a consideração que todos merecem.
Incentive seu filho a manter relações de igualdade e de respeito com as pessoas.
A diversidade chama a atenção da criança nesta idade. É importante que você saiba tolerar e compreender essas diferenças, pois assim estará ajudando seu filho a conviver sem preconceitos e a conviver melhor com todos. Converse com seu filho sobre as diferenças que existem entre as pessoas e que elas devem ser respeitadas. Também é fundamental que ele compreenda que todos têm direitos iguais; independente de características étnicas, religiosas, identidade sexual, faixa etária, nível socioeconômico e cultural.

EBC | A importância de dizer "não" para as crianças

Limite é diferente de castigo. Dar limite às crianças significa dizer claramente o que é permitido e o que não é, seguindo uma regra rígida, imutável.

Delimitar as possibilidades na vida das crianças faz com que ela se sinta segura. Sendo assim, o castigo deixa de ser necessário.

Conheça a opinião da psicanalista Ruth Cohen sobre o assunto:
 


EBC | A importância de dizer "não" para as crianças

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Polêmicas e Curiosidades: Palavrões em Músicas: Liberdade de Expressão ou Imoralidade Explícita?

Estou escrevendo essa postagem porque, como a maioria das pessoas decentes desse país, eu não aguento mais! Não aguento mais a falta de educação e bom senso de algumas pessoas que, sem ter o mínimo de coerência e respeito pelos que estão a sua volta, manifestam suas preferências "culturais" em qualquer lugar sem se importarem com os direitos e o conforto auditivo dos cidadãos de bem que estão por perto. Estou falando dos indivíduos completamente sem noção que invadem lugares públicos com seus malditos aparelhos sonoros entupindo nossos ouvidos com todos os tipos de lixo fonográfico existentes atualmente.
Muitas vezes questiono comigo mesmo: Quem é o culpado da coisa ter chegado a esse ponto? Os "músicos" e as gravadoras que não têm mais, ou nunca tiveram, amor pela verdadeira arte e que só estão mesmo interessados em ganhar dinheiro? O público deles que é tremendamente inculto e ignorante? Ou o governo que é muito liberal e incapaz de defender a moral e a decência para que haja realmente ordem e progresso nesse país? Não sou preconceituoso em relação a nenhum estilo musical; não tenho nada contra as preferências de ninguém; e também não defendo a ditadura governamental. Mas, sinceramente, está difícil conviver com certos indivíduos que são, ou pelo menos demonstram ser, incapazes e indignos do convívio em sociedade.
As mulheres decentes, as crianças inocentes e todas as pessoas que defendem a ética e a moral, independentemente de serem esses valores religiosos ou não, são cruelmente agredidos e massacrados diariamente por palavreados de baixo calão que generalizadamente visam a indução à atitudes pornográficas. Sei que a tendência é piorar, e se a coisa continuar indo nesse ritmo, logo esses sujeitos vão praticar atos sexuais no meio da rua e ninguém poderá falar nada, porque se falarmos seremos presos, pois nós é que estamos errados por estarmos sendo muito radicais e demasiadamente repreensivos contra essas pobres "vítimas" desse sistema opressor que não estão fazendo nada demais, só estão se divertindo um pouco.
Me lembro de uns dez anos atrás: eu também curtia as baladas; gostava muito de RAP, pois o HIP HOP sempre foi o melhor e mais eficiente movimento cultural-ativista de nossa era contemporânea. Me lembro também de como nós éramos perseguidos pela polícia e "chicoteados" pela imprensa simplesmente porque protestávamos contra a violência militar, a opressão política, a hipocrisia capitalista, as desigualdades sociais e as injustiças de um modo geral. Hoje a realidade desse movimento está um pouco diferente porque muitos rappers se venderam e poucos prosseguem defendendo a ideologia dos negros, dos pobres e dos injustiçados. Porém, o que quero destacar com isso é o fato de que qualquer palavrão inserido em uma letra de RAP era motivo para escândalo e revolta por parte da sociedade. Mas essa mesma sociedade hoje aplaude a linguagem podre das músicas atuais, dá risada quando vê uma criança semi-nua rebolando, leva na brincadeira quando duplas sertanejas chamam as mulheres de piranhas, fica indignada quando um funkeiro é preso por induzir jovens ao crime, se diverte com forrós que valorizam somente o lado sexual feminino, vibra com o axé que expõe a mulher brasileira como simples objeto de prazer, se emociona com o samba e o pagode que são incentivadores à infidelidade conjugal e defendem dezenas de outros tipos de músicas que são simplesmente instrumentos satânicos de degradação e ridicularização de um povo que trabalha duramente para sobreviver.
Será que estou sendo muito radical e demasiadamente repreensivo? Pois saiba que assim como você, e como eles também, sou apenas mais uma vítima sobrevivente que não se conforma com esse inculto sistema cultural brasileiro que nada mais é do que uma imensa fábrica de ignorantes, imorais, perversos e falsos cristãos, cujos grandes objetivos de sua vida se resumem em diversão momentânea e nada mais! É, só pra terminar, quero deixar bem claro uma coisa: se você é uma dessas pessoas que defendem o uso de palavrões, gestos ou outros tipos de expressões imorais, saiba que mesmo que você não me respeite, eu continuarei te respeitando e não vou impor a você ter que ouvir em nenhum lugar público as músicas que eu gosto, embora elas seriam muito boas para o desenvolvimento mental e espiritual de sua pessoa porque apenas transmitem conteúdo cristão. Porém, somente te peço uma coisa: Pelo amor de Deus, prove que é civilizado e compre um par de fones de ouvido!

terça-feira, 22 de novembro de 2016

MEC vai lançar curso de formação em direitos humanos para professores | Agência Brasil

O Ministério da Educação (MEC) pretende lançar um curso de direitos humanos para professores da educação básica. A informação é do diretor de Políticas de Educação em Direitos Humanos e Cidadania, da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do MEC, Daniel de Aquino Ximenes.
Segundo ele, o treinamento terá módulos de estudo online nos quais os professores terão acesso a temas como racismo, homofobia e bullying. A intenção é que eles tenham subsídio tanto para lidar com essas questões na escola quanto para levar os temas para a sala de aula.
"Educação em direitos humanos é um guarda-chuva amplo que trata de bullying e violências, de ética e cidadania, de garantias de direitos, racismo, violência contra a mulher" e temas afins, disse o diretor à Agência Brasil.
O curso será destinado a professores do ensino fundamental e médio. Ao participar eles receberão uma certificação, que poderá ser de extensão aperfeiçoamento ou até mesmo especialização, o que ainda será definido. As aulas deverão ser elaboradas no ano que vem por universidades e entidades, ainda a serem definidas, e começarão a ser disponibilizadas a partir do segundo semestre de 2017.
O curso deverá estar completo em 2018. A formação em direitos humanos está ainda em definição final no MEC e deverá, de acordo com Ximenes, ser lançada por meio de portaria até dezembro. As aulas serão abertas e acessíveis também aos professores que não estão fazendo o curso, a diretores e a toda a comunidade escolar.
"O professor e a direção da escola, por exemplo, podem se apropriar daquele módulo, daquele conteúdo e ter um elemento que possa ser útil para a realidade do dia a dia", diz Ximenes. Segundo ele o material inclusive é apropriado à faixa etária. “Se ele for professor do ensino médio, terá um material com linguagem jovial, para que ele possa usar em sala de aula".
Pacto universitário
Em oura iniciativa do setor, o MEC lançará nesta quinta-feira (24) o Pacto Universitário pela Promoção do Respeito à Diversidade de Cultura da Paz e Direitos Humanos, que pretende incentivar instituições públicas e privadas de ensino superior a desenvolver projetos voltados à defesa dos direitos humanos.
"Qualquer instituição poderá aderir e desenvolver atividades que sejam demonstradas no ensino, pesquisa, extensão e convivência", diz Ximenes. As instituições terão 90 dias para elaborar propostas e depois terão que enviar relatório de acompanhamento a cada seis meses. Os projetos bem sucedidos receberão um selo de respeito à diversidade. O MEC vai também apoiar na criação de linhas de pesquisa e extensão dentro da temática.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

A Importância Da Pontuação

A experiência de sala de aula, como professora de Língua Portuguesa do Ensino Médio, tem com freqüência mostrado o quanto é necessário rever alguns procedimentos bem como estabelecer novas metodologias no ensino da língua materna, no sentido de fazer dessa língua um objeto de estudo não só prazeroso como também um instrumento eficiente e eficaz para a leitura, a compreensão e a produção de textos de diferentes gêneros.
Dada a natureza deste evento, nosso olhar estará dirigido diretamente para o texto literário, como indica o próprio título de nossa comunicação.
Se, até meados dos anos 60, o ensino de Língua Portuguesa se orientava por uma perspectiva gramatical que parecia adequada naquele momento, pelo fato de os alunos que freqüentavam a escola já dominarem uma variedade lingüística próxima à de prestígio social, a mudança da população escolar revelou que tal modelo passou a mostrar-se pouco eficiente, dada a falta de domínio em relação à norma padrão pelo novo contingente de alunos que veio freqüentar a escola.
A necessidade de mudar o enfoque do ensino da língua fez com que diferentes abordagens surgissem ao longo dos últimos anos. Do tecnicismo que marcou os anos 70, quando a língua assumiu a condição de simples instrumento de comunicação, visão esta que resultou no ensino de técnicas de redação, exercícios estruturais e treinamento de habilidades de leitura, esforços para mudanças no ensino vêm sendo feitos, manifestados através de políticas educacionais.
Desde os anos 80, o ensino da Língua Portuguesa tem sido o centro da descrição acerca da necessidade de melhorar a educação no país, do ensino fundamental ao universitário. No ensino fundamental, os índices brasileiros de repetência nas séries iniciais estão diretamente ligados à dificuldade que a escola tem de ensinar os alunos a ler e a escrever. No nível universitário, a dificuldade de os alunos, muitas vezes, compreenderem os textos propostos para leitura e de organizarem idéias por escrito tem-se apresentado uma realidade enfrentada, inclusive no curso de Letras.
Vários estudos realizados vêm apontando caminhos para o ensino da Língua Portuguesa, e observa-se haver um consenso entre estudiosos e pesquisadores de que tal ensino deva pautar-se em dois eixos principais: leitura e escrita. Tal posição está presente também nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), que consideram ser o texto a unidade básica do ensino da língua.
Sabemos, porém, não ser essa a realidade que se mostra freqüente na sala de aula. O conteúdo gramatical continua a ocupar o centro das aulas, totalmente desvinculado, por exemplo, da produção escrita. Sobre o trabalho com o texto, funciona este, com freqüência, como mero pretexto para a abordagem de tópicos gramaticais. Cabe ainda considerar que, especialmente no ensino médio, professores distintos, e nem sempre afinados na maneira de ver o ensino da língua, ministram separadamente Gramática, Literatura e Redação. Essa tripartição, especialmente quando ocorre a falta de sintonia metodológica entre os professores, dificulta, e muito, a visão global do aluno, na medida em que isola a gramática da leitura e da produção textual; o texto literário, então, normalmente é tratado como um mecanismo à parte, como se ele não se construísse com base na gramática da língua: pela confirmação das regras ou pelo desvio de valor estilístico.
A partir dessas questões expostas, mostra-se imperiosa a necessidade de fazer com que o aluno perceba a relação estreita que existe entre o conhecimento gramatical, a leitura e a produção escrita. Gramática não como um fim, mas como um meio através do qual o aluno desenvolve sua capacidade de expressão, assumindo uma postura cidadã.Não um emaranhado de regras que aprisiona e tolhe o uso, mas um instrumento vivo e rico, capaz de ser administrado de maneira funcional e criativa.
Nesse quadrante da funcionalidade e da criatividade, entendemos dever estar situado o tratamento a ser dado ao uso dos diferentes sinais de pontuação, o que também não é comum de ser visto no dia-a-dia do trabalho docente.
Aspectos ligados à pontuação vêm despertando o nosso interesse e a nossa curiosidade já há algum tempo. A necessidade de estabelecer um olhar mais cuidadoso para esse tópico mostra-se essencial, dado o importante papel que desempenha na aprendizagem e no desenvolvimento da leitura e da escrita.
No dizer do professor Evanildo Bechara, os sinais de pontuação “constituem hoje peça fundamental da comunicação e se impõem como objeto de estudo e de aprendizado.” (BECHARA: 1999)
Ao levar em conta os livros didáticos adotados com mais freqüência nas escolas de ensino médio, percebemos que a preocupação maior é a memorização de regras sintáticas no emprego dos diferentes sinais: os casos de uso obrigatório e proibido da vírgula e do ponto-e-vírgula, o emprego das aspas, do ponto de exclamação, entre tantos outros enumerados. Embora costumem iniciar o estudo da pontuação, estabelecendo sua relação com a oralidade, fica evidente, na explicitação das regras apresentadas, que a relação entre o oral e o escrito acaba por perder-se, uma vez que critérios sintáticos são assumidos como os únicos cabíveis. A entoação, o ritmo sintático da fala são desconsiderados, o que acaba por dificultar a visão mais ampla que o aluno deveria apresentar no contato que estabelece com o texto escrito, tanto na condição de leitor quanto na de produtor.
Tal procedimento, como bem demonstram as avaliações escolares em diferentes níveis, não tem garantido resultados satisfatórios, considerando-se as últimas pesquisas realizadas, que buscaram determinar a capacidade de compreensão que o aluno demonstra daquilo que lê, além das já costumeiras referências às dificuldades reveladas na escrita, em especial nas respostas dadas às questões de provas discursivas.
Estando, pois, preso ao padrão sintático que o livro didático lhe oferece como referência, dificilmente o professor aborda a finalidade estética do uso da pontuação, tão presente nos textos em que essa finalidade se apresenta como objetivo maior. Os usos “inesperados”, presentes nos textos literários, costumam ser apresentados como “licença poética”, rótulo no qual tudo acaba por vir a caber.
Diante desse fato, é muito comum ouvirmos do aluno questionamentos acerca do emprego de alguma vírgula de algum ponto fora dos lugares a eles determinados pelas gramáticas tradicionais. Daí advêm comentários, tais como: “O Drummond pode usar desse modo; se eu usasse na minha redação, estaria errado!”.
Realmente não pode ser outra, senão essa, a conclusão a que o aluno vai chegar sobre o emprego dos sinais de pontuação: ele, aluno, que foi, todo o tempo, obrigado a decorar regras de uso dos sinais de pontuação; que teve sua redação corrigida sempre que não obedecia a essas regras, num dado momento, vê-se diante de um texto que contraria muito daquilo que lhe foi ensinado, apresentado de maneira tão positiva, tão elogiosa pelo professor. Pergunta-se: o aluno está errado na sua observação? Certamente que não. Para ele, somente aos escritores, seres dotados de um poder supremo, é dado o poder de efetuar as escolhas que melhor lhes aprouver; é dado o direito de obedecer ao padrão gramatical ou de subvertê-lo. O que se vê, nesses casos, são procedimentos diferentes, como que saindo de uma cartola mágica, colocados nas mãos do aluno, que, em nenhum momento anterior, sequer ouvira sobre tais possibilidades de uso.
Não sabe, pois, o aluno que qualquer falante que domina a estrutura e as idiossincrasias de sua língua é capaz de fazer desta o uso que julgar mais adequado à situação na qual se encontra como autor: na produção de um texto científico ou de um texto burocrático, sua postura será uma; em se tratando de um texto literário, será outra a atitude.
Ao lado desse cuidado, vale dizer ainda que, no trabalho com textos em sala, em atividades de leitura, de compreensão e de interpretação, seja com textos literários ou não-literários, o uso que os autores fazem dos sinais gráficos não costuma ocupar lugar de destaque. Poucas são as vezes em que o professor conduz seu trabalho visando relacionar a pontuação à produção do sentido do texto em pauta; destacar o ritmo como efeito do uso dos sinais; chamar a atenção para o uso literário da pontuação. Por conseguinte, dificilmente o aluno, por si só, poderá perceber a relevância dos diferentes usos, e, muito menos, transferir para o texto que produz esses recursos.
Voltando aos livros didáticos, os exercícios apresentados normalmente conduzem o aluno a “pontuar convenientemente!” frases apresentadas, que nenhuma relação de sentido estabelecem entre si. Portanto, ver a pontuação no texto, como fator responsável pela produção de sentido, mostra-se distante, dado que o universo apresentado não ultrapassa o limite da frase. Não sendo o texto um conjunto aleatório de frases, mas um todo organizado no qual as frases se relacionam de maneira coerente nos planos micro e macro textual, a dificuldade que o aluno encontra com a pontuação no texto mostra-se evidente.
Diante desse quadro, cabe, portanto, ao professor apresentar condições para que tais problemas possam ser resolvidos e, a partir daí, fazer com que o aluno possa melhorar se desempenho como leitor e como autor, dando à pontuação o destaque que o assunto efetivamente deve ter.
No texto literário, a questão estética, a expressividade do uso dos sinais gráficos não podem ser relegadas. Segundo Coseriu, se há no discurso literário um desvio proposital da norma, seu efeito, além de agradável ao leitor, é essencial à tessitura da obra. Assim sendo, vírgulas, pontos de exclamação, reticências, colocados fora dos padrões sintáticos habituais, não podem ser desconsiderados, uma vez que são determinantes na produção de sentido do texto.
Entendido como recorte de uma realidade, em um determinado momento histórico, a partir de dadas condições de produção, o texto materializa todos esses fatores condicionantes. No caso específico da pontuação, ao lado do padrão sintático-semântico, não é possível desconsiderar o modelo rítmico-semântico, presente em textos consagrados.
Ao ler, por exemplo, Guimarães Rosa, o aprisionamento do leitor desavisado ao padrão sintático-semântico da pontuação poderia trazer dificuldades na compreensão do texto rosiano, pelo fato de ser o ritmo o foco da construção do referido autor. Se buscarmos textos medievais, certamente poderemos estabelecer paralelos interessantes entre a produção textual da Idade Média e de Guimarães. Será, portanto, possível considerar que a revolução da prosa rosiana se encontra, em certa medida, com o resgate da tradição medieval como elemento de ruptura com a forma de contar, corrente em seu tempo.
No âmbito da literatura portuguesa, o mesmo pode ser referido em relação a José Saramago. A estruturação do texto em blocos compactos muito lembra a organização textual característica da Idade Média.
Ainda sobre ruptura, não se pode deixar de considerar a obra de Machado de Assis. Em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, no capítulo LV, “O Velho Diálogo de Adão e Eva”, a pontuação é o texto ; a substituta plena da palavra. O sentido constrói-se a partir da distribuição dos sinais gráficos e da relação que estabelecem entre si, a partir dos personagens diretamente envolvidos (Brás Cubas e Virgília). A extensão das reticências e os demais sinais empregados são, por si sós, capazes de fazer com que o leitor recupere o conteúdo sugerido, com base no conhecimento compartilhado de mundo. O mesmo procedimento ocorre no capítulo CXXXIX, “De como não fui ministro de Estado”, na mesma obra.
Com relação aos poetas românticos, é notável o emprego de travessões, de exclamações, de reticências para enfatizar suas idéias e emoções. Em Castro Alves, por exemplo, a grandiloqüência e o tom hiperbólico, que o caracterizam, revelam-se também através da pontuação. A exacerbação dos sentimentos, tão própria da poesia romântica, encontra-se marcadamente demonstrada com o emprego de sinais combinados, como exclamação e reticências, revelando o esforço de externar a intensidade da emoção vivida.
É importante destacar que o uso dos sinais de pontuação implica também a supressão deles. Assim, não empregar os sinais esperados também pode constituir efeito estilístico, permitindo, inclusive, mais de uma leitura.
Entre os autores que utilizaram tal recurso, cita-se Mário de Andrade. Em “Macunaíma”, a enumeração com nomes de coisas da mesma espécie sem separação por vírgulas constitui um procedimento a destacar.
A supressão de sinais gráficos acha-se presente também em Clarice Lispector, como recurso de representação do fluxo do pensamento do personagem.
Conclui-se, pois, que , no caso específico do texto literário, mostra-se freqüente uma atitude caracteristicamente pessoal do uso da pontuação, na produção de efeitos expressivos. Portanto, do mesmo modo que existe uma língua literária dentro da língua escrita corrente, existe uma pontuação literária dentro do sistema de pontuação corrente. Proceder o autor dentro de um padrão sintático-semântico ou rítmico-semântico, ao pontuar o texto, ou não fazer uso de qualquer sinal gráfico, dependerá da intenção daquele que produz o texto.
A maneira como a pontuação é normalmente trabalhada impede que o aluno perceba tais questões, já que, fora do espaço da memorização de regras, praticamente nada existe que possibilite a reflexão sobre as escolhas dos autores.
Fica, assim o aluno impedido de saborear o texto, de deliciar-se com os recursos utilizados e de ver-se capaz de também produzir textos tão ricos e envolventes, se este for o seu propósito.
Não sejamos nós, professores preocupados com tais questões, os responsáveis por esses impedimentos desastrosos. Não privemos nossos alunos do direito de conhecer, da maneira mais plena possível, a riqueza dos recursos de que é dotada a nossa língua.

Tania Maria Nunes de Lima Camara (UNISUAM)

REFERÊNCIAS

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 1999.
CAL, Ernesto Guerra da. Lengua y estilo de Eça de Queiroz. Universidade, 1954.
CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. São Paulo: Ática, 1985.
LIMA, Carlos Henrique da Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. 31ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1992.
LIMA, Mário Pereira de Souza. Gramática expositiva da língua portuguesa. São Paulo: Nacional, 1937.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2001.
MARTINS, Nilce Sant’Anna. Introdução à estilística. 2ª ed. São Paulo: T.A. Queiroz, 1997.
NASCENTES, Antenor. O idioma nacional. 3ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica. 1960.
RIBEIRO, Ernesto Carneiro. Estudos gramaticais e filológicos. Salvador: Livraria Progresso, vol.3, 1957.
Fonte: www.filologia.org.br